No cenário político do Maranhão, onde a brisa de alianças históricas frequentemente se transforma em tempestades de rivalidades, um refrão de Beth Carvalho ressoa como um eco: “Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão.” Talvez seja a trilha sonora mais apropriada para ilustrar a trama de lealdade, poder e rupturas que envolve Flávio Dino e Carlos Brandão.
Durante dois mandatos, Flávio Dino, então governador do Maranhão, contou com Carlos Brandão como seu fiel escudeiro, vice de todas as horas. Quando chegou a hora de sucedê-lo, Dino apostou suas fichas em Brandão, mesmo enfrentando resistência de aliados como Weverton Rocha, que rompeu e disputou contra a dupla Dino-Brandão. Apesar das turbulências, Dino manteve sua palavra, garantiu a vitória de Brandão e retirou-se da política para ingressar no Supremo Tribunal Federal, deixando uma estratégia cuidadosamente desenhada para o futuro.
O plano era claro: após Brandão, seria a vez de Felipe Camarão, vice-governador, herdar o projeto político. A lógica parecia incontestável, um desdobramento natural de um pacto político firmado sob a bandeira da continuidade. Mas, como na política nem tudo segue o roteiro, o enredo tomou um desvio inesperado.
Brandão, uma vez empossado, começou a traçar sua própria trilha. Movido talvez por um pragmatismo político ou por ambições mais pessoais, o governador se afastou do script de Dino, aproximando-se de figuras historicamente adversárias, como o clã Sarney e partidos de direita. Para muitos, essa mudança de rumo soou como um golpe de traição. Não bastasse, Brandão foi além: consolidou seu domínio na Assembleia Legislativa ao apoiar Iracema Vale para a presidência, em detrimento de Othelino Neto, um dos mais leais aliados de Dino.
Nesse teatro de disputas, não apenas aliados de Dino foram marginalizados, mas a política de Brandão foi marcada por uma série de controvérsias. Nomeações de familiares, a exemplo de Marcus Brandão e Daniel Brandão, reforçaram a percepção de favorecimento pessoal. Blogueiros financiados pelo governo estadual e pela Assembleia passaram a atacar os aliados de Dino, enquanto protegiam Brandão sob uma aura de “novo líder incontestável”. Mas será que a história contada por eles reflete a verdade?
Entre os bastidores e os holofotes, Felipe Camarão, o vice-governador, ainda espera que Brandão honre o modelo “Dino-Brandão”, renuncie ao governo em 2026 para disputar o Senado e o apoie como sucessor. No entanto, os sinais vindos do Palácio dos Leões indicam que Brandão tem outros planos, com Orleans Brandão, seu sobrinho, sendo cogitado como um possível sucessor. Felipe, apesar de sua postura diplomática, começa a perceber que pode não estar mais na lista de prioridades de Brandão.
Por outro lado, Flávio Dino, hoje no STF, observa de longe o cenário que ajudou a construir desmoronar. Enquanto aliados como Othelino Neto resistem bravamente, Dino viu sua estratégia cuidadosamente articulada ser desfeita por aquele que ele confiou como herdeiro político. O afastamento entre os dois chegou ao ponto de Dino não convidar Brandão para seu casamento, em um gesto que simboliza o rompimento definitivo.
E, então, fica a pergunta: quem realmente traiu quem? Brandão, que desviou o caminho ao qual havia se comprometido, ou Dino, que, segundo os blogueiros alinhados ao governo, “não soube compartilhar o poder”? Na política, as linhas entre lealdade e traição são frequentemente tênues, mas, para muitos, a figura que hoje ocupa o Palácio dos Leões encarna o papel daquele que “pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão.”
Enquanto a voz de Beth Carvalho embala o enredo, o Maranhão assiste a esse drama político que mistura alianças desfeitas, interesses familiares e uma pitada de ironia. A história ainda está sendo escrita, mas uma coisa é certa: no grande palco da política maranhense, a próxima cena promete ser tão intrigante quanto as anteriores.